terça-feira, 6 de setembro de 2016

O caráter das demissões industriais no ABC - Impressões iniciais

Gisele Costa[1]

Hoje (07/09) os operários da Mercedes-Benz se reunirão em assembleia na porta da fábrica. Uma vez mais, a multinacional alemã insiste na demissão de mais de mil trabalhadores diretamente ligados à produção.

Mais uma vez, a direção do Sindicato dos Metalúrgicos buscará um consenso entre personagens antagônicos como alternativa ao conflito inevitável. Fato esse que expressa não apenas o seu caráter burocrático, mas os limites da formação sindical em um país subdesenvolvido. Entretanto, as determinações objetivas das demissões operárias não podem ser compreendidas pelas rotineiras análises sindicais e economicistas. O que o capital enquanto força social prepara desde o ABC Paulista, é mais profundo.

Metido em uma crise de duração histórica e consequências imprevisíveis, o capital prepara uma nova reestruturação produtiva, na qual tudo indica que a produção fabril brasileira e latino-americana ganhará outro caráter, já em curso.

Com a entrada da China na divisão internacional do trabalho, a industrialização na América Latina tende a perder força nas grandes áreas urbanas e fortalecer-se nas cidades médias, cuja economia está voltada para a cadeia produtiva do agronegócio e do extrativismo. Em outras palavras, mais do que nunca a industrialização estará a serviço do setor primário-exportador, em um novo ciclo de primarização da região. 

A consequência principal é o aprofundamento da dependência frente ao imperialismo, e nesse contexto de dimensões históricas, o desemprego industrial no ABC é o ponto de partida. De modo que aqueles que compreendem a libertação nacional como tarefa dos socialistas, devem assimilar que a luta contra o desemprego, é antes a luta contra a recolonização imposta pelos países centrais e por seus cúmplices autóctones.







[1] Mestre em Integração da América Latina pelo PROLAM/USP e colaboradora do site www.lamericas.org

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